Eu, com o passe da Carris orgulhosamente pendurado ao pescoço, apanhava o eléctrico na Cruz Quebrada com destino a Algés e combinava com a minha mãe fingirmo-nos desconhecidas durante a viagem, para que eu experimentasse a emocionante sensação de viajar sozinha, preparada que me sentia, do alto dos meus 9 anos, para enfrentar qualquer eventualidade.
Ele, quando podia, fazia toda a viagem ao lado do condutor, observando atento os vigorosos e amplos movimentos do enorme volante e do sonoro travão. Talvez sonhasse com o dia em que também ele pudesse vir a conduzir os eléctricos dos STCP.
Eu, no regresso das aulas, aprendia com os outros a arte de saltar do eléctrico em andamento, correndo no vazio tipo Tom Sawyer, até que os pés atingissem o chão, na maior parte das vezes seguidos dos joelhos e de um grande trambolhão.
Ele diz que mais tarde chegou a fazer passeios românticos de eléctrico, embalados pelo som esforçado do motor, que ainda hoje ele imita tão bem.
Eu, quando chegou a idade de fazer passeios românticos, já vivia em Braga, Cidade que tem muitos encantos, mas que não tem eléctricos.
Eu e ele já levámos os filhos a fazer um passeio de eléctrico, e partilhámos, entusiasmados, as memórias de quando os eléctricos faziam verdadeiramente parte do nosso dia-a-dia, de quando eram mais do que circuitos turísticos e peças de museu.
Este eléctrico chamado desejo de bolo de chocolate, foi hoje adoçar a boca de um grupo de crianças que visitou o Museu do carro Eléctrico, porque hoje é o Dia Internacional dos Museus.
Para quem ficou saudoso depois de ler este post, sugiro uma visita à galeria de fotografias que o site Museu do Carro Eléctrico disponibiliza online aqui.
Mais um bolo fantástico e um texto escrito com muita ternura.
ReplyDeletebeijinhos